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ED e o novo MUNDO: A história de Edmundo Souza, um ex-atleta sem diploma no jornalismo esportivo​

Edmundo Alves de Souza Neto, 48 anos, é um dos principais nomes da história do futebol brasileiro. Conquistou quatro Campeonatos Brasileiros, dois Campeonatos Paulistas, dois Cariocas, uma Copa Mercosul e uma Copa América e foi reserva de Ronaldo na Copa do Mundo da França, em 1998, sagrando-se vice-campeão. Todas essas conquistas foram alcançadas em 20 anos de carreira, após uma infância pobre no bairro do Fonseca, em Niterói e com a perda de seu irmão, encontrado morto, alvejado de balas.

Antes de chegar à Copa do Mundo e outros títulos importantes no cenário do futebol profissional, Edmundo começou jogando no time do seu próprio bairro, no Fonseca, localizado em Niterói, cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro. Após partida contra o Vasco, na qual se destacou, foi levado para atuar no futebol de salão do clube, com 9 anos de idade. Em seguida fez testes para o futebol de campo, não só no Vasco, mas também no Botafogo e no Fluminense, mas pela pouca condição financeira da sua família, optou por prosseguir no salão, já que havia remuneração em dinheiro.

O jogador tornou-se ídolo de Vasco e Palmeiras por sua identificação e conquistas defendendo as duas agremiações, mas muitos outros clubes contaram com o jogador como Flamengo, Cruzeiro, Corinthians, Santos e Fluminense, além de clubes menos famosos no cenário nacional como o Figueirense e o Nova Iguaçu. No exterior, passou por Napoli, da Itália, Tokyo Verdy e Urawa Reds, do Japão, sendo reconhecido pelo seu talento por onde passou.

Após deixar os gramados, Edmundo pensou em seguir carreira como empresário de atletas, mas o segmento, segundo ele, é dominado por empresários, “gente do mercado financeiro” que comprava passes, respondendo pelos pais dos jovens atletas, através de procurações, e por isso, vendo-se com um alto custo e pouca receita, desistiu de seguir na área. Depois dessa frustração, enquanto disputava uma partida de Showbol, competição de “futebol de 7” para ex-atletas consagrados, organizada pelo tabém ex-atleta Djalminha, recebeu o primeiro convite para ser comentarista na RedeTV, e tinha como função expor seu conhecimento técnico, pela ótica de quem atuou como jogador e viveu os bastidores do esporte.

Um aspecto que o destaca na função de comentarista, está descrita em sua biografia autorizada, escrita pelo jornalista Sérgio Xavier: “Sou verdadeiro. Sincero. Odeio falsidade. Vou continuar falando, para sempre, o que penso. E, acima de tudo, eu sinto a totalidade das coisas com muita intensidade.”. Após passar pela TV Bandeirantes, Edmundo ingressou no time do FOX Sports, em setembro de 2016.

A personalidade forte que o acompanhou por toda a carreira nos gramados foi levada para esta nova etapa de sua carreira, mas com moderação. Se sofreu preconceito com relação a isso, o ex-jogador admite: “Num primeiro momento sim. Eu não sou dessa época moderna de que tudo é buylling, preconceito, acho uma doença dos tempos modernos, mas aconteceu sim, por que entrei no lugar do Sérgio Noronha, um jornalista bem conceituado, renomado e era novo”.

Ainda sobre a relação entre o ex-atleta e jornalistas renomados, Edmundo afirma que ela é muito boa, levando em consideração que ambos ocupam espaço complementar nos veículos de mídia: “Eu acho que a gente se completa. Eu não tenho sede pela notícia, sabe? Por exemplo, as vezes acontece de ter uma informação privilegiada e eu ligo pra um dos meus companheiros aqui e passo, por que não tenho compromisso com a notícia. Eu tenho compromisso com a verdade de comentarista. O jogo aconteceu e eu vou comentar sobre o jogo. Não corre em mim a veia jornalística e acho que isso que faz com que a gente não tenha tanto conflito.”

Apesar de não ser diplomado em comunicação social ou jornalismo, Edmundo não se baseia apenas em seu conhecimento como jogador para atuar nos programas esportivos. O comentaristas explica como se preparou para assumir essa função: “Quando eu fui convidado, eu parei mais pra ver, fui em referências, como o Lédio Carmona que eu gosto pra caramba. Fui conversar com um e outro e aprendi que, por exemplo, a gente não deve adivinhar. Não se deve dizer: ‘Ah, esse jogo vai ser 3 a 0’, porque pode ser 1 a 0 para o outro. O futebol é o único esporte em que o mais fraco ganha do mais forte. Fui também estudar alguma coisa e aprendi que é melhor eu dar minha opinião de forma certa ou errada do que eu achar. Minha opinião é essa. Se estou certo ou errado, o tempo vai dizer.”

Hoje Edmundo Souza é um nome de peso no elenco de profissionais do canal FOX Sports, atuando entre jornalistas renomados como Paulo Vinícius Coelho, João Guilherme, Eugênio Leal, Eduardo Elias, entre outros. A tendência seria a busca pelo crescimento e, quem sabe, se desenvolver em outras funções no jornalismo esportivo, mas Edmundo encerra sua fala afirmando que não é o que almeja na carreira: “a minha trajetória é diária. Hoje aqui vamos falar do que aconteceu na rodada. Não quero marcar uma geração, ter frases que as pessoas vão lembrar para o resto da vida. Quero dar minha opinião sobre o que está acontecendo hoje. Se tem gente melhor do que eu e mais capacitada para fazer... Acho que Nelson Rodrigues marcou uma geração, Tricolor doente, frases fortes, que claro, ficarão para a eternidade e eu não tenho essa pretensão, te juro que não. Eu tenho experiência de vida, uma experiência de futebol e tento falar.”

Confira os principais trechos da entrevista com Edmundo Souza:

 

Como começou no futebol e como era sua vida nessa época?

Comecei no Fonseca e num jogo contra o Vasco acabei me destacando. O Vasco me levou, cheguei com uns 9 anos no futebol de salão do clube. Ali começou minha trajetória. Quando fui transitar para o campo, o primeiro clube que fiz teste foi o Botafogo. Na verdade eu já havia passado pelo Vasco e Fluminense, mas eu ainda preferia jogar o futsal, por que pagava uma graninha e aí quando precisei fazer a transição, fui para o Botafogo. Morei na concentração de Marechal Hermes e um pouco antes de ir pro profissional, acabei voltando pro Vasco e aí comecei a minha trajetória profissional, em 26 de janeiro de 1992, meu primeiro jogo.

 

Quais foram suas maiores conquistas?

Minha principal conquista foi logo no dia 2 de abril de 1992, fui convocado pela primeira vez para a seleção brasileira, exatamente no dia do meu aniversário, com dois meses e pouco de profissional. Logo no primeiro ano fui campeão carioca invicto, não fomos campeões brasileiros pelo acaso. Fui para o Palmeiras campeão paulista, campeão brasileiro, do Rio-São Paulo, bi-campeão paulista e brasileiro. Foi um início fantástico. O Palmeiras rejeitou um monte de propostas para eu ir para a Europa e eu acabei vindo para o Flamengo em 1995 e não foi das experiências mais bacanas. Em 96 fui para o Corinthians, emprestado pelo Fla e no meio do ano, o Vasco me comprou. Fiquei no Vasco até 97, fui para a Itália em 98 e fiquei até metade de 99. Voltei para o Vasco e em 2000 fui para o Santos, voltei para a Itália (Napoli - Não foi muito legal), depois Cruzeiro, Japão e lá foi muito legal, fiquei dois anos e atuei por dois times (Tokyo Verdy e Urawa Reds), novamente voltei para o Vasco, depois Fluminense (2004), resolvi parar de jogar, achei que estava na hora, me enveredei para o lado político e não foi uma experiência legal. Joguei então duas partidas pelo Nova Iguaçu, na Serie B do Estadual, fui para o Figueirense e foi muito bacana (2005). 2006 e 2007 joguei no Palmeiras e terminei no Vasco, em 2008. Foi muito triste por que o Vasco caiu naquele ano. Foi triste para mim como atleta, como vascaíno de modo geral.

Pensou em ser o que depois que terminou a carreira?

Me preparei para ser empresário de jogador. Montei um escritório bacana, uma estrutura legal, mas foi um período difícil para quem quisesse começar como empresário, por que veio muita gente do mercado financeiro, empresas, comprando procurações, direitos econômicos, coisas que o público não sabe de modo geral, mas você compra o direito de responder pelo pai sobre parte financeira dos meninos, é o poder do dinheiro falando mais alto. Então me peguei no escritório com custo alto e sem receita.

 

Como foi seu início no jornalismo, alguém te convidou?

O Djalminha tinha o Showbol e fomos fazer um jogo em Santa Catarina. Lá o Ronaldo Giovanelli, goleiro falou pra mim: “Pô, estamos precisando de um comentarista lá na RedeTV, você não quer? Ah, não sei, não quero, mas deu meu telefone lá pro Terence (Paiva), que era o diretor, aí fui almoçar lá no canal, eles estavam se mudando pra uma sede nova, toda digitalizada, uma das primeiras do Brasil a fazer isso, um lugar bem bonito, fiquei encantado com o José Emílio Ambrósio, que era diretor, fantástico como pessoa, inteligente. E aí, eu comentando com os amigos que não achava a ideia legal e todo mundo falou: “Pô, você entende de futebol, fala tão bem, acho que você vai se dar bem”. Daí eu fui, comecei fazendo o Bola na Rede com o Fernando Vanucci, todo domingo, aí comecei a fazer jogos da Liga Europa. Lembro como se fosse hoje, fui fazer meu primeiro jogo. O David Luiz jogava no Benfica nessa época, a gente foi ensaiar um pouco antes, eu engasguei pra caramba, não saía, de nervoso que eu estava. Teve uma alma bondosa, chamado Bruno Prado, que é um excelente comentarista, e ele foi super generoso comigo e falou: “Olha, no começo deixa que eu falo, depois passo a bola para você” e a gente fez uma dobradinha legal. Aí comecei a gostar, só que a Bandeirantes tinha todos os campeonatos e a RedeTV não, aí acabei indo no final de 2009 para lá, 2010 haveria a copa do mundo e foi muito legal. Fiquei 7 anos na Band, sou eternamente grato, apaixonado por aquela empresa. Digo em família e vou dizer aqui também, com risco de perder meu emprego, mas um dia ainda quero voltar a trabalhar lá. É um lugar maravilhoso, uma empresa famliar. Foram 7 anos maravilhosos, onde conheci pessoas maravilhosas. Só tenho coisas boas a dizer.

 

Como se preparou para esta nova profissão? Estudou algo?

Claro que quando eu fui convidado, eu parei mais pra ver, fui em referências, como o Lédio Carmona que eu gosto pra caramba. Fui conversar com um e outro e aprendi que, por exemplo, a gente não deve adivinhar. Não se deve dizer: “Ah, esse jogo vai ser 3 a 0”, porque pode ser 1 a 0 para o outro. O futebol é o único esporte em que o mais fraco ganha do mais forte. Joga contra dois adversários: Tempo e o outro time.

Então foi muita coisa que eu fui aprender e fui também estudar alguma coisa e aprendi que é melhor eu dar minha opinião de forma certa ou errada do que eu achar. Minha opinião é essa. Se estou certo ou errado, o tempo vai dizer. As vezes algumas coisas fui estudar, aprender, por que eu não tinha conhecimento, mas algumas coisas são do meu eu, da minha sinceridade. É claro que dentro de uma emissora grande como a FOX, eu defendo mais o Vasco e outro defende mais o Flamengo para a gente divergir e pode fazer um programa de debate, mas isso faz parte. Não é nada combinado, mas faz parte do nosso dia a dia. Porque se for só um programa de opinião, acho que as pessoas não param pra assistir.

 

Sofreu algum preconceito por não ter o diploma?

Num primeiro momento sim. Eu não sou dessa época moderna de que tudo é buylling, preconceito, acho uma doença dos tempos modernos, mas aconteceu sim, por que entrei no lugar do Sérgio Noronha, um jornalista bem conceituado, renomado e era novo, hoje já é mais natural, quase que impossível uma mesa redonda sem um ex-jogador pra passar [...] Eu acho que se completam, a vivência do jornalismo com o ex-atleta, o que passou dentro do campo, mas naquela ocasião fui bem criticado por alguns jornalistas porque estava tomando lugar de um profissional da área, mas enfim, a gente tem que seguir e com as pessoas que eu trabalhava era sensacional, eu podia demonstrar meu lado humano, que as pessoas não conheciam e o que eu me lembro é isso, mas se a palavra foi preconceito, passei por coisas piores que uma crítica ou outra por ter entrado no lugar de um jornalista renomado, um cara que eu respeito e admiro.

Você crê que quem tem diploma tem vantagem?

Eu acho que a gente se completa. Eu não tenho sede pela notícia, sabe? Por exemplo, as vezes acontece de ter uma informação privilegiada e eu ligo pra um dos meus companheiros aqui e passo, por que não tenho compromisso com a notícia. Eu tenho compromisso com a verdade de comentarista. O jogo aconteceu e eu vou comentar sobre o jogo. Não corre em mim a veia jornalística e acho que isso que faz com que a gente não tenha tanto conflito. A gente se complementa. Também consigo passar um pouco do que vivi lá dentro. Nem sempre tudo que vem de dentro do futebol para o mundo jornalístico é verdade. A maioria das vezes vem o que interessa e eu consigo filtrar isso e dizer: “Olha, não é bem assim, não acontece assim, as pessoas lá não são tão puras”. Engraçado, hoje do lado de cá, eu acho que há mais pureza aqui no jornalismo, embora haja também bons e maus profissionais, eu acho que hoje está mais difícil plantar uma notícia. O cara tem sua própria rede social, ele vai lá e desmente. Então fica mal para o jornalista. Antigamente, os caras plantavam e iam colando rótulos em todo mundo, mas posso afirmar: Ainda faltam oito anos no jornalismo para equiparar o que eu vivi no futebol, mas acho que tem mais verdade do lado de cá, do que do lado de lá.

 

Como se vê jornalista? Acha que é referência para alguém neste ramo?

Não, a minha trajetória é diária. Hoje aqui vamos falar do que aconteceu na rodada. Não quero marcar uma geração, ter frases que as pessoas vão lembrar para o resto da vida. Quero dar minha opinião sobre o que está acontecendo hoje. Se tem gente melhor do que eu e mais capacitada para fazer... Acho que Nelson Rodrigues marcou uma geração, Tricolor doente, frases fortes, que claro, ficarão para a eternidade e eu não tenho essa pretensão, te juro que não. Eu tenho experiência de vida, uma experiência de futebol e tento falar.

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