Por trás dos karaokês e encontros à noite na Feira de São Cristóvão, existe muita história, tradição e resistência. Um dos grandes pontos de encontro para jovens e adultos, na Zona Norte do Rio de Janeiro, é também local de confraternização dos migrantes e descendentes de nordestinos, desde a década de 40. É nesse espaço que compartilham memórias, boa música e culinária típica, transformando a Feira em um pedaço do Nordeste no Rio - cidade construída com a ajuda de muitos nordestinos.
O pavilhão foi inaugurado no início da década de 60 e tinha o objetivo de sediar a Exposição Internacional de Indústria e Comércio. Possui 156.000 m² e já sofreu algumas transformações durante sua história
Imagens: Riotur e Google
FEIRA DE SÃO CRISTOVÃO: UM ESPAÇO PARA MANUTENÇÃO DA CULTURA E RESITÊNCIA NORDESTINA
Como perpetuar tradições fora do local em que as mesmas foram criadas? Esse questionamento é fundamental para compreender a Feira de São Cristovão, espaço no Rio de Janeiro que remonta os séculos de migração nordestina, se estabelecendo como um motor de preservação, manutenção e continuidade de tradições. Tudo começou no pequeno comércio de produtos nordestinos, entre as décadas de 1940 e 1950, em torno do ponto de desembarque dos pau-de-araras. Ali, no espaço aberto do Campo de São Cristóvão, a Feira se desenvolveu e funcionou por mais de cinco décadas até a sua transferência para o Pavilhão de São Cristóvão, onde funciona desde 2003 como Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas.
Segundo Mestre Azulão, um dos fundadores do local, a Feira começou como um local para reunir os conterrâneos e comer as delícias nordestinas que não existiam no Rio. A partir desses encontros, os laços foram se estreitando e a possibilidade de fazer daquelas pequenas vendas o sustento foi virando real. Mas a comida não era a única motivação dos encontros: por ser o local de chegada dos pau-de-araras, as notícias dos familiares e da terra desembarcavam com os recém-chegados. Assim, as reuniões foram se tornando uma tradição para os migrantes, e uma possibilidade de renda também. A feira surge como uma convergência de necessidades e sobrevivência nordestina.
A Feira, como tudo, não é mais como antigamente. Hoje em dia se tornou um grande atrativo turístico, recebendo cerca de 100mil pessoas por fim de semana e gerando renda para 700 famílias que trabalham nos guichês. Com essa perspectiva mercadológica, muitos nordestinos da 1ª geração da Feira pararam de frequentá-la, o que abriu espaço para que novos migrantes ocupem o lugar. Para Maria (58), que trabalha há 35 anos na Feira, a melhor faculdade que ela poderia ter feito foi a Feira de Tradições Nordestinas. “Eu comecei aqui vendendo pão caseiro, Kisuco da Paraíba e bolo. Chegava de madrugada quando tinha que vender lá fora. Trouxe meus costumes, mantive do mesmo jeito. Só o ritmo do trabalho que mudou”, ela explica sobre sua trajetória.
Na perspectiva de Maria, a prefeitura ajudou os feirantes reformulando a Feira, mas esse é um assunto que divide opiniões: “Trabalhei lá fora embaixo de chuva e sol, era bem mais difícil. Hoje com a graça de Deus e a ajuda da prefeitura estamos aqui dentro, pois foi ela que nos apoiou e apoia até hoje. Em termo de melhoria estrutural, foi bom. Para a caixinha nem tanto pois temos muitos gastos”.
Imagens: Riotur e Google
Em 2003, o pavilhão passou a abrigar a Feira, que antes funcionava no seu entorno, no estacionamento. Em 2019, completa 16 anos de pavilhão e 74 anos de existência.
Maria
administradora da Feira
Aqui é um pedacinho do Nordeste fora do Nordeste. Muita gente pode ir lá, mas muitos também não podem. E eles vão aonde? A Feira de São Cristóvão onde tem a canjica, a pamonha, o milho assado, aonde tem tudo que você possa imaginar. O forró pé de serra, a quadrilha.
Cristina
coordenadora do Memorial
As pessoas se encontravam aqui para dançar forró, comer uma comida típica e até rever amigos vindos de lá também. Até porque as correspondências vinham por correio ou em mãos de alguém conhecido. Então, esses encontros aqui existiam também por isso, no traz e leva de alguma coisa
Projeto elaborado por:
Leticia Oliveira
Liz Almeida
Mylena Severo
Thiago Guimarães